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CYBERBULLYING: quando o perigo ultrapassa os muros da escola.

Autora: Waleska Silva

O presente artigo possui como escopo discorrer sobre a questão do lado sombrio da tecnologia, consubstanciada por práticas de bullying e cyberbullying na escola e na sociedade. Enfatiza a troca de conhecimentos inerentes ao ethos educacional e a sua contribuição para o sucesso dos processos de ensino e aprendizagem. Destaca a relevância do diálogo, no cotidiano escolar, para a constituição de uma sociedade mais justa e igualitária. Conclui que o respeito à diversidade, afeto às práticas educacionais, consiste em uma das alternativas para a superação de um mundo de exclusão e, consequentemente, de tristezas e desencantos.

Palavras-chave: Escola do século XXI; educação dialógica; Bullying; Cyberbullying.

Introdução

“As versões emancipatórias do multiculturalismo baseiam-se no reconhecimento da diferença e do direito à diferença e da coexistência ou construção de uma vida em comum além de diferenças de vários tipos”. (Boaventura de Sousa Santos)

Nos últimos anos, com o advento das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTICs) nota-se uma ampliação da proximidade entre as pessoas. Permeada, sobretudo, pela redução das noções de espaço e tempo, que esses artefatos potencializam. Surgem aparatos, como: computadores, notebooks, tablets, smartphones, iPhone, iPad etc. O mundo mudou e, com isso, a geografia mundial, antes “estática”, cede lugar ao convívio e às diversas formas de contatos e acessos virtuais dinâmicos. Na internet, as pessoas conversam, ouvem músicas, trocam informações, se associam em grupos por afinidades, fazem compras, estudam, fazem cursos, buscam experiências diversas etc. Atrelado à todo esse movimento da cibercultura[1] , observa-se o surgimento de inúmeros problemas acoplados às diversas formas de se comunicar no ambiente virtual.

É interessante elucidar que, em conjunto aos limites e desafios relativos à cibercultura, se despontam questões como: o ódio na internet (ofensas comuns x discursos de ódio); problemas ao compartilhar imagens de forma segura; insegurança e riscos com a questão da intimidade na internet; superexposição da imagem, dentre outros, assim como surge o cyberbullying e suas particularidades. Dessa forma, ressaltamos a relevância da proteção dos dados na internet, para uma boa convivência em rede.

O desafio da educação atual recai, sobretudo, na questão da cybersecurity [2] , de modo a evitar a explorações das pessoas, ameaças e superexposição de dados, e a fim de se preservar a saúde física e emocional de todos.

As relações permeadas pelas novas tecnologias no mundo contemporâneo

“Trocava toda a minha tecnologia por uma tarde com Sócrates.”
(Steve Jobs)

Nos últimos anos, a tecnologia passou a ser um dos temas mais estudados. Buscar compreender como as tecnologias auxiliam o homem, em sua vida, constitui um dos objetos desses estudos, considerando que “a tecnologia é uma das características que definem a natureza humana: Sua história se estende por todo o decorrer da evolução do ser humano.” (Capra, 2002, p.97). Desde os primeiros utensílios criados para auxiliar o homem até os cabos de fibra ótica, tudo é tecnologia, que acirra a relação do homem com a sociedade. Frente a essa “nova compreensão da vida […]” (Capra, 2002, p.97), explicita que as novas tecnologias acabam potencializando uma nova estrutura social, pois, através dela, se estabelece uma dinâmica de rede em âmbito mundial uma vez que as barreiras do tempo e do espaço deixam de existir simbolicamente (Serpa, 2004).

Tendo em vista o surgimento de uma nova configuração social a partir da instituição do ciberespaço como ambiente comunicacional, é preciso também pensar em uma ressignificação dos processos educacionais a partir do potencial das novas tecnologias.

Este trabalho tem o intuito de discorrer sobre o lado obscuro da tecnologia, nos meios escolares, consubstanciado pelo bullying e pelo seu desdobramento, o cyberbullying.

Bullying e cyberbullying: conceitos

“[…] a qualidade da educação é um conceito em evolução e como tal varia no tempo e no espaço, dependendo fortemente do local de onde se fala e principalmente de quem são seus defensores, nesses casos os educadores, onde com suas reflexões podem contribuir para um ensino com qualidade […].”
(Arroyo)

O termo bullying consiste em um comportamento consciente, intencional, deliberado, hostil e sistemático de uma ou mais pessoas, cuja intenção é atingir ou enfraquecer uma terceira pessoa. Sua investigação inicial data da década de 70, com os estudos de Dan Olweus, na Universidade de Bergen – Noruega, onde este publicou os resultados de sua pesquisa inicial no livro: Aggression in the Schools: Bulliesand Whipping Boys (1978). Tal pesquisa contribuiu para o desenvolvimento de uma campanha antibullying em escolas norueguesas, em 1983, após a ocorrência de três casos desse gênero.

O programa antibullying de Olweus, a partir de 1990, foi adaptado e serviu de modelo para escolas de vários países, como nos Estados Unidos (EUA). Seu paradigma se tornou referência, principalmente, na contribuição à construção de um ambiente escolar mais seguro e propício à aprendizagem. Para o pesquisador, a eficiência de um programa antibullying, no espaço escolar, está na parceria entre toda comunidade escolar, no monitoramento e acompanhamento dos alunos, dentro e fora da sala de aula. E, também, na importância da intervenção particular, no caso dos agressores.

Com o advento das NTICs na sociedade, o bullying se transforma e cede lugar ao cyberbullying, sendo conceituado por muitos autores, como um tipo de bullying que ocorre por meio de ferramentas digitais. De acordo com Santana (2013, p. 15)

A palavra bullying, da língua inglesa, é derivada do substantivo bully, que significa, nesse contexto, agressor, e do verbo to bully, que significa maltratar alguém, principalmente quem é mais fraco. Em português, a palavra que mais se aproxima dessas é o verbo “bulir”, que significa aborrecer, incomodar. Portanto, por não haver uma tradução precisa, usa-se o termo bullying no Brasil, bem como em quase todos os outros países preocupados com este tipo de violência.

Nesse sentido, o bullying consiste em uma agressão repetitiva, que ocorre em várias faixas etárias, em escolas particulares e públicas, caracterizadas por intimidações, agressões físicas, ameaças, roubo, difamações, exclusão social etc.

As pessoas que são alvo do bullying são as que estão além dos padrões aceitos pela maioria da sociedade, como: sujeitos baixos, altos, magros, gordos etc., ou, ainda, aqueles que se destacam pela beleza ou inteligência, sendo hostilizados por despertarem inveja. (Maldonado, 2011, p .8)

O cyberbullying constitui uma ameaça, que surge através da internet, onde os perfis de vítima e agressor são mais propensos de serem alternados e modificados. E há, também, o quesito rapidez e velocidade na propagação da mensagem e troca de informação, que contribui para o aumento da intensidade e gravidade do problema. De acordo com Maldonado (2011, p.62):

O Cyberbullying caracteriza-se por ataques usando mensagens de texto de celular, câmeras, ou o computador por meio de redes sociais, sites de vídeo, e- mails com o objetivo de depreciar, humilhar, difamar, fazer ameaças e aterrorizar uma pessoa ou um grupo escolhido como alvo.

Ainda sobre o perfil do agressor, a questão do anonimato merece ser enfatizada pois, segundo Maldonado (2011, p.63): “No ataque presencial, o autor é conhecido; no cyberbullying, pode acontecer que o agressor nunca esteja no mesmo espaço físico que sua vítima e consiga permanecer anônimo por muito tempo, atacando em momentos inesperados.”

Assim, a violência, nos casos de cyberbullying, é muito mais cruel e drástica, e sua abrangência é mais ampla e desesperadora. Principalmente em virtude de sua propagação rápida e por conta do anonimato. Como características do cyberbullying, predominam as ações e “brincadeiras” de mau gosto referentes à etnia, orientação sexual, gênero, condições financeiras, origem geográfica etc. por meio da internet.


Sobre essa perspectiva, Maldonado (2011, p. 66) nos alerta que:

Educadores e pais precisam se unir para transmitir a crianças e adolescentes os fundamentos do uso saudável e responsável dos crescentes recursos da tecnologia, bem como alertá-los claramente sobre os perigos que rondam os sites de relacionamento e os jogos interativos. Expor fotos, exibir-se pela webcam, fornecer dados e detalhes da vida pessoal aumenta significativamente o risco de ser trapaceado… Muitos que fingem ser “amigos virtuais” são criminosos que sabem seduzir, envolver e encantar as vítimas.

Nessa ótica, convém esclarecer que muitas crianças e jovens não sabem que cyberbullying é crime. Frisa-se que a punição para o agressor, de crimes cibernéticos, é a mesma de um crime presencial.

Considerações finais

Enquanto educadora, a intenção que se põe é buscar pontes que alicercem a construção de uma sociedade mais justa, que minimize preconceitos e esteja, a favor, do bem comum e da vida.

Sabe-se que a escola, por si só, não se constitui como a redentora de todos os males sociais. No entanto, ela não pode se eximir da parte que lhe cabe, que é a transformação de indivíduos a partir do estímulo, do diálogo e conhecimento dos valores socialmente arquitetados e acumulados.

Torna-se conveniente enfatizar que os alunos da contemporaneidade requerem novas maneiras de adquirir conhecimento já que estão imersos em um mundo cada vez mais tecnológico, dinâmico e flexível.

Sendo assim, o professor do século XXI deve estimular a criação do conhecimento, não sendo mais um transferidor deste, como se via na educação bancária de Paulo Freire. Nessa contemporaneidade, o docente aparece como um mediador, um facilitador da aprendizagem, que deve ser estimulada, sobretudo, a partir da interação entre os pares.

Dessa forma, a escola do século XXI deve estar atrelada ao desenvolvimento de práticas pedagógicas voltadas para o diálogo, sobretudo, em detrimento dos perigos e ameaças que as NTICs apresentam como riscos aos seus usuários. Nesse sentido, urge que a escola e os educadores sejam mediadores de um saber que oriente os educandos sobre o lado sombrio da internet, buscando, assim, pontes e caminhos para o engendramento de uma educação voltada para a cultura da paz para reduzir as práticas de bullying e cyberbullying nas escolas e, consequentemente, no mundo contemporâneo. A educação deve se fundamentar na interpretação do impacto dessas práticas na vida dos estudantes, principalmente na orientação de seus projetos de vida, nas suas respectivas construções de identidades e na contribuição à formação de uma sociedade mais igualitária, harmônica, digna e justa para todos.

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Notas

[1] Segundo Lévy (1999, p.260), a Cibercultura consiste em todos os acontecimentos relativos às ações e práticas desenvolvidas entre as pessoas na rede mundial de computadores

[2] Cybersecurity ou segurança da informação envolve todas as ações com o objetivo de tornar os ambientesvirtuais seguros

Waleska Silva

MBA em Gestão Pública com ênfase em Cidades Inteligentes, pela UNOPAR. Especialista em Gestão Escolar, pela UNOPAR. Psicopedagoga, pela Universidade Estácio de Sá - UNESA. Especialista em Alfabetização e Letramento, pela Universidade Estácio de Sá - UNESA. Especialista em Gênero e Sexualidade, pelo Instituto de Medicina Social, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Graduada em Pedagogia, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Iniciou a vida profissional como Gestora de Projetos, na ONG CIEDS, na cidade do Rio de Janeiro. Atuou na Gerência de Administração, da 4 ª CRE, onde integrou a equipe responsável pelo acompanhamento do Programa Nacional de Alimentação Escolar-PNAE, das creches parceiras. Atualmente, é Professora de Ensino Fundamental, lotada na E/CRE (04.11.036) Escola Municipal F. J. Oliveira Viana.

Referências

CAPRA, F. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Pensamento, 2002

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999.

MALDONADO, Maria Teresa. Bullying e Cyberbullying: o que fazemos com o que fazemos conosco? São Paulo: Moderna, 2011.

SANTANA, E. T. Bullying e Cyberbullying: aprender dentro fora das escolas: teoria e prática que educadores e pais devem conhecer. São Paulo: Paulus, 2013.

SANTOS, Boaventura de S. Dilemas do nosso tempo: globalização, multiculturalismo, conhecimento. Educação & Realidade, v. 26, n. 1, p. 13-32, 2013.

SERPA, F. Rascunho digital: diálogos com Felippe Serpa. Salvador: EdUFBA, 2004.

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