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O concurso

Autora: Michelle Garcia Antonio Ferreira​

Na hora do recreio da escola, uma menina estava rodeada por outras garotas de sua turma. Essa menina ouvia, embasbacada, histórias contadas por elas.

— Meu pai me levou a um parque de diversões no final de semana.

— Fui ao circo com minha mãe.

— Eu, minha mãe e meu padrasto em Porto de Galinhas! Olha nossa foto!

— Fomos patinar na Lagoa!

— Fomos ao Cristo!

— Estive no cinema e foi muito bom!

— Tirei foto com o Mickey, olha!

Sim, a triste realidade para a menina era que a mesma não podia ir a nenhum desses lugares. Além de não possuir dinheiro, nem trabalhar, não possuía pais que tivessem condições para irem a tais lugares com ela.

A menina vivia numa comunidade do Rio de Janeiro, numa residência de chão batido. Seu quarto não tinha guarda-roupa, TV ou computador, algo comum nas fotos mostradas pelos alunos da escola em seus respectivos celulares. Roupas? A maioria de doação. Calçados, idem. A menina não tinha muitos brinquedos. A menina ainda dividia o quarto com um irmão.

A menina pensava… pensava… E seu pensamento a levava para lugares que não poderia ir fisicamente. Como seria estar num circo? E a menina visualizava todos os espetáculos circenses possíveis. Palhaços, pipoca, gente rindo, barulho. Como seria? Um beijo na bochecha do Mickey, uma foto no Cristo. E a menina se imaginava nesses lugares, livre, desfrutando de tudo em estado de plenitude.

Após muito devanear, a menina acabou comentando com os pais um certo dia sobre seu desejo de conhecer lugares novos, longe da residência, longe da rotina. Os pais responderam de chofre que, um dia, iriam levá-la.

A menina, então, passou a perguntar com certa frequência quando iriam finalmente levá-la para conhecer algum lugar novo. Os pais acabaram sendo forçados a falar a verdade. Que trabalhavam muito e ganhavam pouco. Que não tinham dinheiro para lazer. Que tinham que pagar as contas.

A menina ficou triste, porém ouviu que se estudasse e tirasse notas boas, poderia ter um bom emprego no futuro, quando virasse adulta. Assim, seria remunerada e poderia utilizar o dinheiro pra conhecer novos lugares.

A menina, então, passou a ficar pensando em virar adulta. Ser adulta seria tão bom. Poder ter dinheiro. Poder ir pra longe. Poder viajar. Começou a focar nos estudos. Passou todos os alunos nas médias, logo chegando ao primeiro lugar da turma. A menina estava indo muito bem na escola.

Um dia, o diretor anunciou:

— Crianças, temos uma boa notícia para vocês!

Boa notícia? Que boa notícia seria essa? As crianças ficaram mudas. A menina focou mais ainda a atenção no diretor.

— Teremos um concurso de redação esse ano!

E o diretor, alto e de cabelos grisalhos, começou a dissertar sobre o concurso de redação. Após dirimir dúvidas das crianças, o diretor anunciou que os alunos que fizessem as três melhores redações receberiam prêmios.

Foi um alvoroço. Só se comentava entre os alunos sobre o concurso. Todos queriam saber sobre os prêmios. Que prêmios seriam? Todos estavam se sentindo estimulados a fazerem uma boa redação.

Redação. Algo realmente difícil de ser feito. Sobre o que escreveria? Como? Quais seriam os personagens? O tema era sobre aventura.

Aventura. Nunca realmente tinha tido uma aventura em sua vida pacata. O que seria uma aventura? Estar numa ilha perdida? Ir num parque sem saber quais seriam as sensações? Viajar para outro país, com costumes diferentes, língua diferente? Vivenciar o imprevisto, sentir frio na barriga, lidar com contratempos, sentir a neve nas mãos. Tomar um banho de chuva…

A data de entrega da redação se aproximava. Finalmente, conseguiu terminar a redação e entregar dentro do prazo estipulado do concurso. Será que ganharia? Será que a redação estava boa? E qual seria o prêmio?

O dia de anunciar os vencedores logo surgiu. O diretor, contente, se dirigiu às crianças alvoroçadas:

— Crianças, chegou a hora de anunciar os vencedores do concurso! O terceiro colocado do concurso de redação desse ano foi… Pedro!

E o coração da menina quase saltava pra fora! Logo, Pedro se dirigia ao diretor para pegar seu prêmio. Uma coleção de livros. Ainda foi anunciado o segundo colocado, que recebeu um ingresso para o circo! Uau!

Faltava o primeiro ou a primeira colocada. A menina estava muito tensa. Tanto que quase não acreditou quando ouviu seu nome!

Sim! A redação da menina foi classificada como a melhor da escola! E o prêmio era um passeio ao parque Extra, considerado o melhor parque de diversões da atualidade!

Michelle Garcia Antonio Ferreira

Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em publicidade e propaganda. Especialização em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e o mundo do trabalho. Experiência de quinze anos em atendimento ao público e uso de sistemas administrativos. Experiência com processos e arquivos. Secretária Escolar na Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro desde 2012. Atualmente lotada na E/CRE (05.15.53) E.M. Senador Francisco Gallotti.

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