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Inverno nuclear

Autor: Pedro Henrique da Silva Miranda

Há dezessete anos, a humanidade conseguiu ir a Marte. Porém, ao retornarem, algo terrível aconteceu: o foguete atingiu uma parte frágil do planeta Terra. Essa parte fez um tremor gigantesco, que fez todas as usinas nucleares do mundo serem destruídas, assim, iniciando um inverno nuclear que atingiu o globo quase por completo, destruindo tudo e matando bilhares.

Cerca de um bilhão, quatrocentos e sete milhões de pessoas continuam vivas. A maior parte dessa população se mudou para a América do Sul. A menor parte foi ou já estava no continente africano que já não era mais o mesmo. Os animais e as pessoas já não eram mais os mesmos. Os animais se agrupavam em bandos de diferentes espécies, sejam carnívoros, herbívoros, seja onívoros; todos andavam juntos a procura de comida e água. Alguns até morriam nesse processo. Quanto aos seres humanos, bem… cerca de 70% da população africana morreu com o estrondo ou com a falta de alimento e de água. Já na América do Sul, a situação estava melhor, graças a agricultura em alta e a enorme fonte de água doce proveniente do rio Amazonas. Assim, com a exceção de alguns países pertencentes ao Reino Unido, como: Ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul, os países da América do Sul resolveram se unir para formar um só país denominado União das Nações Sul-Americanas (UNASUL). Esta tornou-se a potência mais poderosa do mundo inteiro, distribuindo suprimentos para todo o globo.

A partir desse ponto, a história será narrada do ponto de vista de Miguel, um jovem inventor de vinte e um anos de idade, que já havia sido premiado três vezes por suas invenções e suas ideias brilhantes:

Dia vinte e sete. A viagem para o Sul está cada vez mais difícil. A água está ficando escassa, a comida está acabando e o Sol não aparece há três semanas. O ar está muito difícil de ser respirado. Minha máscara de gás rasgou há dois dias e meus aparelhos se danificaram.

ꟷ Eu espero que consiga achar algumas sucatas para que eu possa fazer alguma máquina para filtrar água. ꟷ Disse Miguel enquanto anotava suas palavras em seu diário.

ꟷ Ei! ꟷ Disse uma voz feminina atrás de Miguel.

ꟷ Que susto! Ainda bem que é só você, Ana.

ꟷ Você ia me deixar sozinha aqui?

ꟷ Não, apenas quando a situação ficar crítica, eu terei de recorrer ao ato de canibalismo.

ꟷ Credo! ꟷ exclamou Ana enojada e apavorada.

ꟷ Mas é verdade.

ꟷ Se você me devorar, não vai mais ter ninguém para sucatas achar.

ꟷ Você conseguiu?

ꟷ Sim.

ꟷ Isso! Agora, finalmente, poderemos ter água potável!

ꟷ E depois disso, a única preocupação vai ser a comida.

Ficamos superanimados. Montei a máquina e vi quantas sucatas de computador Ana conseguiu encontrar e percebi o quão útil é minha parceira.

Pronto!

Mal finalizei a máquina e pedi à Ana seu cantil de água do mar:

ꟷ Então, é só colocar a água nessa máquina e ela se purifica?

ꟷ Basicamente isso.

ꟷ Que legal!

ꟷ Valeu.

Então, coloquei a água na máquina e torci para que funcionasse. E funcionou!

ꟷ Ai, meu Deus! Não acredito que funcionou!

Conseguimos! Nós nunca mais vamos precisar procurar água limpa. Estava tão difícil…

ꟷ Realmente.

ꟷ Olha, tá ficando tarde. Vamos montar as barracas onde?

Olhando ao redor, vi um terreno abandonado com alguns muros e um portão de ferro.

ꟷ Que tal aquele terreno?

ꟷ Pode ser.

Porém, para nosso azar, ao chegarmos até o grande portão de ferro do terreno, este estava trancado.

Droga!

ꟷ Calma. Você tem um clipe de papel?

ꟷ Sim.

ꟷ Me dá ele aqui.

ꟷ Ok, pega aí.

Ana pega o clipe de papel e enfia no cadeado e consegue abrir o grande portão de ferro.

ꟷ Boa, Ana!

ꟷ Obrigada, Miguel.

ꟷ De nada.

Entramos no terreno e tiramos as barracas do carrinho de mão.

ꟷ Deixa que eu monto, Miguel.

ꟷ Tem certeza, Ana?

ꟷ Sim, pode deixar!

ꟷ Ok, então!

ꟷ Ah, sim, você era escoteira, né?

ꟷ Sim.

Ana fez parte de um grupo de escoteiras. Sendo uma das melhores, teve sempre muito destaque. Uma de suas características era a sua calma, que sempre me contagiava me deixando mais calmo e paciente.

ꟷ Prontinho!

ꟷ Nossa! Que rapidez!

ꟷ Que nada…

ꟷ É sério.

ꟷAh, obrigada.

ꟷ De nada.

ꟷ Rápido! Vamos dormir logo.

ꟷ Sim, sim já estou indo!

Fomos dormir, mas, de madrugada, ouvimos alguns barulhos estranhos fora da barraca e Ana ficou assustada e me chamou:

ꟷ Miguel…

ꟷ Oi, Ana…

ꟷ Você tá ouvindo esse barulho?

ꟷ Sim.

ꟷ O que deve ser?

ꟷ Não sei, amanhã eu vejo.

Assim, voltamos a dormir. Na manhã seguinte, acordei ansioso para investigar o tal barulho:

ꟷ Onde que você ouviu o barulho, Ana?

ꟷ Perto da parte esquerda do muro.

ꟷ Ok.

Andei com o coração batendo forte, embebido em adrenalina à medida que me aproximava da parte esquerda do muro e ouvia barulhos estranhos vindos de uma parte com algumas telhas que estavam cada vez mais altos:

ꟷ Quem está aí?

Ninguém responde.

ꟷ Não vou falar de novo. Quem está aí?

Saindo das telhas, um animal surge. Um cachorro.

ꟷ É só um cachorro. ꟷ Suspira Miguel aliviado.

ꟷ Miguel?

ꟷ Oi, Ana.

ꟷ Já descobriu o que era?

ꟷ Sim! Vem aqui ver.

ꟷ Já vou!

ꟷ E, então, o que você em… Meu Deus! Um cachorrinho!

ꟷ Era ele que estava fazendo aqueles barulhos ontem.

ꟷ Nós podemos ficar com ele? Por favor!

ꟷ Não vejo por que não!

ꟷ Eba!

ꟷ Calma, calma. Que nome você vai dar pra ele?

ꟷ Que tal Spring?

ꟷ Bem-vindo à família, Spring!

Após comermos um coelho caçado pelo novo membro, ganhei mais energia para procurar materiais para a construção da base. Mas antes mesmo de me levantar, Spring começou a latir insistentemente. Como ele estava afastado, corremos até ele, desviando das ruínas tomadas pelo mato. Encontramos uma estrutura destruída, não muito diferente do restante do lugar. Um barulho de lataria pesada se arrastando nos surpreende e, num extinto de defesa, peguei Ana e Spring e mergulhamos para dentro do sinistro lugar procurando um canto para nos escondermos, enquanto o barulho de lataria se aproximava mais e mais.

ꟷ O container. ꟷ Sugeriu Ana.

ꟷ Não deixe Spring latir e não faça barulho pra sabe-lá-o-quê não vir atrás da gente. ꟷ Adverti.

Aqueles minutos pareciam eternos. O nível de tensão era tão alto que eu sentia meu peito vibrar a cada batida rápida e forte do meu coração. Ana suava a ponto de molhar a gola da roupa. Finalmente, o barulho pouco a pouco vai diminuindo e, na primeira oportunidade, saímos de lá. Caminhamos de volta à base e dormimos de tanto cansaço.

No dia seguinte, já descansados, nos preparamos para seguir rumo à América do Sul. Antes, nos agasalhamos e saímos para procurar algumas peças de veículos. Minha intenção era montar um caminhão, para isso, calculei que seriam necessárias por volta de 400 peças. Confesso estava ficando um pouco desmotivado quando, de repente, Ana gritou:

ꟷ Miguel, tem um depósito bem ali mais a frente. Lá deve ter o que precisamos.

Para nossa sorte, era um pátio de veículos que se deterioravam ao ar livre. O caminhão que eu tinha planejado montar estava estacionado bem ao final de uma fileira de carros. Tentei ligar, mas não deu partida. Nada de bateria, nem de combustível. Lembrei dos painéis solares que havia catado de casas abandonadas e comecei a elaborar um projeto para desenvolver um caminhão movido à energia solar. As aulas de engenharia ainda estavam vivas em minha mente e despertariam o cientista maluco dentro de mim.

Após quarenta dias trabalhando com ardor, o caminhão estava pronto.

ꟷ Ana, aqui está a nossa entrada para a América do Sul.

ꟷ Finalmente, depois de dezessete longos anos vivendo entre os escombros do que foi a nação mais poderosa do planeta, iremos sair daqui.

Assim, eu, Ana e nosso novo companheiro partimos com a esperança de reconstruir o mundo, nosso mundo no paraíso latino.

 

Fim

Pedro Henrique da Silva Miranda

8º Ano – Turma 1802 - E/CRE(08.33.033) Escola Municipal Dalva de Oliveira.

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