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Entrevista com professor José Moran

 Entrevista com professor José Moran

Um Papo Sobre Metodologias Ativas

 

1) Professor José Moran, como definir as metodologias ativas? E a partir dessa definição, como ela se dá e quais são as vantagens de utilizá-las, para o estudante e para o professor?

As metodologias ativas são estratégias pedagógicas, desenhadas e mediadas pelos professores para que os estudantes se tornem mais protagonistas através da investigação, da experimentação e da resolução de problemas, de forma criativa, crítica e integral.

As metodologias ativas ajudam a tornar as aulas mais dinâmicas e interessantes, aumentando a motivação e o engajamento dos estudantes. Para o estudante, elas permitem uma aprendizagem mais significativa e duradoura, pois são baseadas em situações concretas e contextualizadas. Além disso, elas estimulam a criatividade, a autonomia e o trabalho em equipe.

Para implementar as metodologias ativas em sala de aula, é preciso criar um ambiente acolhedor, colaborativo e estimulante. Algumas das estratégias mais utilizadas incluem o estudo de casos, o trabalho em grupos, a resolução de problemas, o desenvolvimento de projetos e a gamificação com o apoio de tecnologias.

Aprendemos melhor em ambientes em que nos sentimos acolhidos, podemos confiar, experimentar, errar e seguir por trilhas diferentes. Educação é fundamentalmente o encontro entre pessoas que interagem, se apoiam, compreendem e se ajudam. Quando criamos esse clima de confiança, é muito mais fácil desenhar estratégias metodológicas, sequências didáticas e formas de avaliação. Elas funcionam melhor quando conversamos com os estudantes, explicamos os objetivos e chegamos a consensos. Quando sentimos que somos importantes, que nossa participação conta, nossa atitude se torna muito mais propícia à mudança (sejamos gestores, docentes, alunos ou pais).

2) Vemos, em um dos seus artigos, sobre a importância da aprendizagem personalizada, colaborativa e orientada. Pode nos falar um pouco sobre essas aprendizagens e suas relações com as tecnologias digitais?

O desenho curricular também pode ser mais flexível. Uma parte do percurso é feita pelo estudante, dentro do seu ritmo e circunstâncias e através de escolhas diferentes. Outra parte é realizada em grupo, de forma mais colaborativa, experiencial e reflexiva com a supervisão e mediação dos docentes nos espaços presenciais e digitais, de forma síncrona ou assíncrona. O percurso se amplia com atividades de tutoria e mentoria para o desenvolvimento dos projetos pessoais e de vida de cada estudante.

Podemos incentivar todas as possibilidades do aprender incorporando as trilhas individuais que cada aluno possa realmente desenvolver cada vez com mais autonomia no presencial e no digital e, também, as diversas formas de aprendizagem em grupo, entre pares, através de projetos, jogos de forma síncrona e assíncrona com apoio de plataformas e aplicativos digitais, mediação docente e o apoio de tutores e mentores. A escola criativa e empreendedora trabalha com projetos e outras dinâmicas centrados na aprendizagem ativa, que estimulam que os alunos resolvam problemas relacionados aos seus interesses e realidade.

A aprendizagem personalizada se baseia na ideia de que cada estudante tem necessidades e ritmos de aprendizagem diferentes, e que o ensino deve ser adaptado a essas diferenças individuais. Temos plataformas e aplicativos que permitem a criação de trajetórias de aprendizagem personalizadas, levando em conta as habilidades, interesses e dificuldades de cada estudante.

Já a aprendizagem colaborativa se baseia na ideia de que o conhecimento é construído em conjunto, por meio da interação entre os estudantes e com o apoio do professor. Com o uso de tecnologias digitais, é possível criar ambientes virtuais que permitem a realização de trabalhos em grupo, discussões e troca de ideias, mesmo que os estudantes estejam em locais diferentes.

E a aprendizagem orientada acontece quando o professor exerce o papel de mentor, mediador ou tutor seja individualmente ou em pequenos grupos.

As tecnologias digitais são cada vez mais importantes em todas as etapas do processo de ensino e aprendizagem: no planejamento, na preparação (aprendizagem invertida), nas atividades em ambientes e tempos individuais, grupais e de tutoria, presenciais e online, síncronos e assíncronos e em todo o processo de avaliação.

3) E qual é o papel do professor quando utiliza metodologias ativas na sua prática pedagógica?

Ensinar e aprender é relevante, desafiador e complexo. As trilhas são diferentes, mudam as circunstâncias, os contextos. Não há uma única receita. Podem ser muitos os caminhos, os métodos, os currículos, os resultados. O bom professor ajuda na descoberta de horizontes desconhecidos em todas as dimensões. É um designer de estratégias, projetos e pesquisas para encantar, motivar e inspirar.

O papel do professor que utiliza metodologias ativas em sua prática pedagógica é o de designer (planeja), facilitador, mediador e orientador da aprendizagem dos estudantes. Desenha, negocia, acompanha e orienta todo o processo: do planejamento até a avaliação.

O papel do professor que utiliza metodologias ativas envolve o planejamento cuidadoso das atividades, a seleção dos recursos adequados e a avaliação contínua do processo de aprendizagem dos estudantes. O professor procura criar um ambiente de aprendizagem colaborativo e estimulante, onde os estudantes possam ser protagonistas de sua própria aprendizagem e, também, aprender intensamente juntos. Ele está atento para identificar as necessidades de cada estudante, estimular sua curiosidade, o pensamento crítico e adaptar o processo de ensino-aprendizagem para atendê-las, dentro do possível, na sua realidade concreta.

4) Dentro do processo formativo do professor, quais os principais focos que devemos pensar dentro do universo digital em que vivemos?

O professor precisa hoje ser capaz de desenvolver práticas pedagógicas inovadoras e adequadas ao contexto físico-digital em que vivemos. Isso implica estar atualizado sobre as tendências e os modelos de ensino que utilizam todos os recursos simples e avançados, bem como ser capaz de adaptá-los à realidade dos alunos e da sua escola.

É importante que avance no domínio das competências digitais para uma aprendizagem criativa e transformadora, estando familiarizado – além das metodologias – com plataformas virtuais, aplicativos educacionais, jogos educativos, entre outros, e como utilizá-los de forma crítica e consciente. Isso implica em discutir questões como privacidade, segurança e uso ético da tecnologia, bem como em ensiná-los a avaliar fontes e informações disponíveis na internet. A formação do professor no mundo digital tem como principais focos o letramento digital, o uso das tecnologias digitais e a robótica educacional. O letramento digital hoje em dia é tão importante quanto saber ler e escrever.

O processo formativo do professor deve ser contínuo e flexível, participando de cursos, workshops e eventos que possibilitem a atualização constante em relação às tendências e inovações pedagógicas e tecnológicas na educação e, também, nos processos de inclusão de alunos com alguma deficiência. A capacidade de adaptação é fundamental para que o professor possa acompanhar as mudanças e incorporá-las de forma efetiva em sua prática pedagógica.

5) Hoje ainda vemos muitos professores resistentes à modernização dos processos de ensino-aprendizagem mesmo com o avanço rápido da tecnologia em todos os segmentos de atividade humana. Como o senhor vê essa situação? E como o senhor vê a importância do engajamento/movimento dos professores para o uso de metodologias ativas?

Parece fácil ser professor. Temos tantas publicações, pesquisas, vídeos! Mas a experiência docente no dia a dia é complexa, diferenciada, contraditória. Cada criança e jovem tem seu jeito, expectativas, motivação, seu ritmo de aprender. Uma estratégia pode ser encantadora para um grupo de estudantes e indiferente para os demais.

Cada docente também tem sua trajetória, estilo, qualidades e dificuldades. Ensinar não é uma corrida de cem metros, mas uma maratona, de longo prazo. Ensinar é um processo que envolve planejamento (individual e/ou grupal), com começo, meio e fim. Exige uma grande capacidade de adaptação a cada momento; sensibilidade para adequar o planejado ao que faz sentido para cada estudante e para todo o grupo. Implica em saber escutar, gerenciar, acompanhar e avaliar, utilizando diferentes estratégias e tecnologias analógicas e digitais.

Ensinar é lidar com a rotina, com os bons e maus momentos, com o sucesso e o fracasso; com bons gestores e gestores burocráticos; com colegas com os quais pode contar e com outros que não ajudam; com estudantes que estão a fim e com estudantes desinteressados; com gestores e pais que apoiam e com os que complicam.

As condições de trabalho são frequentemente pouco atraentes: docentes que lecionam em duas ou três escolas, com turmas grandes, baixos salários, pouco tempo de planejamento, de avaliação de cada estudante e de formação continuada. Na educação básica e superior, há frequentemente uma tensão entre a exigência de ter os melhores profissionais – que custam caro – com o pagamento de salários baixos, desestimulantes. A profissão, em geral, é mais valorizada no discurso do que na prática. Por isso, muitos jovens desistem ou são aconselhados a não seguir essa carreira.

Mas não há alternativa. Os caminhos da educação dependem de que os professores estejam abertos a experimentar novas abordagens e metodologias que incentivem a participação ativa dos estudantes, a colaboração e o pensamento crítico com as tecnologias disponíveis em cada escola, que utilizem a tecnologia digital como ferramenta para potencializar a aprendizagem dos estudantes. É preciso compreender que a tecnologia não deve substituir o papel do professor, mas sim complementá-lo, possibilitando novas formas de interação e de aprendizagem.

O cenário que se desenha de agora em diante é, no entanto, promissor. Estamos em um período de transição para a experimentação de novos modelos de ensinar e de aprender, mais flexíveis, mais personalizados, com muita sinergia com as organizações sociais e o apoio do melhor dos encontros presenciais com a riqueza de possibilidades que também o digital oferece, de forma assíncrona e síncrona. O digital é um ambiente essencial para inovar, empreender, integrar todas as áreas, pessoas e serviços e poder oferecer experiências ricas e diferenciadas de aprendizagem, pesquisa e parcerias.

6) E o planejamento do professor, como repensá-lo?

O planejamento precisa ser aberto e flexível, levando em conta a realidade da qual fazem parte professores, escola e alunos. Em termos gerais, isso significa considerar a diversidade dentro da sala de aula e os problemas e necessidades de todos, principalmente dos alunos.

Os professores podem incentivar a criatividade dos alunos, a participação ativa nas atividades na sala de aula, em todos os espaços dentro e fora da escola. Isso pode ser alcançado por meio de jogos educacionais, exercícios de escrita criativa e projetos em grupo que permitem que os alunos explorem diferentes soluções para problemas. É importante também adotar uma abordagem interdisciplinar no planejamento e na prática pedagógica, conectando diferentes áreas do conhecimento para que os alunos possam entender melhor a relação entre elas e aplicar o conhecimento de maneira mais eficaz.

Cada aluno tem suas próprias necessidades e interesses; por isso é importante que os professores personalizem o aprendizado de acordo com as necessidades de cada aluno. Isso pode ser alcançado por escuta ativa, negociações amplas, avaliações regulares, feedback constante e planos de ensino mais individualizados, sempre que possível.

O planejamento procura prever a utilização de diferentes estratégias didáticas ativas e de tecnologias diferentes, das mais simples às digitais, como aplicativos, plataformas e recursos online para tornar o processo de aprendizagem mais atraente, encantador e profundo.

O planejamento também precisa abrir a escola para a cidade (cidade-educadora) e para o mundo (projetos que resolvam projetos reais) e fortalecer a relação com os pais e responsáveis.

Repensar o planejamento do professor envolve o foco no desenvolvimento de habilidades, a adoção de uma abordagem interdisciplinar, a consideração da diversidade, o fornecimento de feedback eficaz, a promoção da aprendizagem autônoma/colaborativa e a incorporação das tecnologias.

7) O senhor considera possível a utilização de redes sociais e celulares como recursos positivos em sala de aula?

A escola precisa partir das redes sociais e utilização criativa dos celulares, de um lado, mas também incentivar situações nas quais os alunos desenvolvam experiências de aprendizagem desconectadas. Precisamos equilibrar o uso criativo das tecnologias e, ao mesmo tempo, incentivar que dependam menos delas, que sejam pessoas mais autônomas e livres, o que hoje não é nada simples. Também precisamos ensinar a aprender, a pesquisar, a avaliar as informações de forma mais crítica (fake news).

A utilização de redes sociais e celulares pode ser um recurso positivo em sala de aula se utilizados de maneira adequada e com um propósito educacional claro. As redes sociais podem ser usadas para estimular a interação entre os alunos e o professor, bem como para promover a pesquisa e a discussão sobre diferentes temas. Por exemplo, grupos de discussão no Facebook ou no WhatsApp podem ser criados para compartilhar conteúdo relacionado a uma disciplina específica ou para discutir tópicos de interesse dos alunos.

Os celulares também podem ser usados para a realização de pesquisas em sala de aula, para o acesso a materiais educacionais online, para a realização de projetos, para criar produções (vídeos, podcasts) e para a comunicação entre alunos, professores e famílias. Alguns aplicativos também podem ser usados para enriquecer o aprendizado, como aplicativos de tradução para estudantes que falam outras línguas ou jogos educativos que podem ajudar os alunos a desenvolverem habilidades específicas.

No entanto, é importante que os professores orientem os alunos sobre o uso adequado dessas ferramentas em sala de aula, definindo regras claras e diretrizes para evitar distrações e garantir que os celulares e redes sociais sejam utilizados apenas para fins educacionais. Além disso, é importante garantir que os alunos tenham acesso às ferramentas adequadas para utilizar essas tecnologias, e que haja um ambiente seguro e propício para o uso dessas ferramentas em sala de aula.

O avanço da Inteligência Artificial e das tecnologias imersivas (realidade virtual, aumentada e mista) aponta para uma maior personalização do aprendizado, para que cada pessoa possa aprender e empreender ao longo da vida individualmente e em diversos grupos e comunidades, em contato com a realidade, desenvolvendo projetos inspiradores, principalmente que resolvam problemas reais da comunidade.

8) Com tantas ofertas e possibilidades de aprendizagem externas às escolas disponibilizadas de maneira informal, com o advento da internet, o que seria importante para que o espaço formal de educação continue a ser relevante na sociedade?

Todas as escolas podem e precisam tornar-se interessantes, criativas, empreendedoras, humanas. Podemos encantar, abrir a escola para o mundo, escutar mais ativamente os estudantes, utilizar todas as estratégias para que eles aprendam. Escolas interessantes fomentam o clima de transparência, de acolhimento, de diálogo, de compartilhamento de práticas e de envolvimento na tomada de decisões estratégicas de todos os setores da comunidade. Escolas interessantes atraem os estudantes, eles gostam dos ambientes, dos docentes, dos projetos. Sabem que vão encontrar ambientes que estimulam a investigação, o diálogo, a solução de problemas, o jogo, a aprendizagem com diversão e ao mesmo tempo com desafios reais. Escolas interessantes começam com gestores acolhedores, que lideram pelo exemplo, que apoiam docentes, estudantes e famílias. As escolas estão limpas, os ambientes são atraentes e, principalmente, as pessoas são competentes e humanas. Os professores estão motivados, se ajudam, desenham estratégias diversificadas para que os estudantes se engajem, participem, criem, compartilhem. Escolas são vivas e atraentes quando há comunicação, respeito, incentivo. Isso é o básico. Não estamos falando que todas as escolas precisam ter as melhores tecnologias (é ótimo, se for possível), mas o principal é ter um grupo de profissionais que fazem de tudo para encantar crianças e jovens. Sem encantamento não há aprendizagem profunda.

O espaço presencial das escolas permite uma interação mais pessoal e humana entre os alunos e professores, proporcionando um ambiente mais rico em termos de conexões sociais e experiências emocionais. A educação presencial permite que os alunos desenvolvam habilidades de comunicação, trabalho em equipe e resolução de conflitos, além de oferecer um ambiente seguro e acolhedor para crianças e adolescentes.

As escolas presenciais proporcionam um ambiente estruturado e organizado para a aprendizagem, com professores especializados em diferentes áreas, que podem orientar e oferecer suporte aos alunos na sua jornada educacional. Os professores também podem identificar as necessidades individuais de cada aluno, e adaptar a sua abordagem para ajudar cada aluno a atingir seu máximo potencial.

A educação presencial também oferece oportunidades de interação social e colaboração, o que pode ser especialmente importante para crianças e adolescentes em seu desenvolvimento pessoal e emocional. As escolas oferecem um ambiente propício para atividades extracurriculares, clubes e outras atividades que podem ajudar os alunos a se envolverem em suas comunidades, e desenvolverem interesses e habilidades únicas.

A educação presencial também é importante porque ajuda a fornecer um conhecimento mais amplo e abrangente sobre o mundo e a sociedade em que vivemos, não apenas por meio do aprendizado de matérias específicas, mas também por meio da exposição a diferentes perspectivas e ideias, o que pode ajudar a formar indivíduos mais informados e críticos.

9) Professor, o senhor poderia destacar algumas estratégias utilizadas que propiciem um ambiente de aprendizagem ativa em sala de aula e falar um pouco sobre elas?

Existe um rico repertório de estratégias que podem ser utilizadas para promover um ambiente de aprendizagem ativa e criativa em sala de aula, como diversas formas de experimentação, de aprendizagem baseada em projetos, em que os alunos são incentivados a desenvolver projetos que envolvam a aplicação prática do conhecimento adquirido, permitindo que eles desenvolvam habilidades essenciais, como trabalho em equipe, comunicação e solução de problemas. A realização de experimentos, atividades práticas e visitas a campo ajuda a tornar o aprendizado mais tangível e concreto, o que pode aumentar o interesse e a motivação dos alunos.

Há muitas estratégias de aprendizagem colaborativa: aprendizagem por pares, em grupos, através de debates, discussões, resolvendo problemas, desenvolvendo projetos: os alunos trabalham em grupos para atingir um objetivo comum, aprendendo a trabalhar juntos e dividir tarefas, todos aprendem juntos. Isso promove habilidades como liderança, cooperação e resolução de conflitos.

Os jogos educativos são uma forma divertida de envolver os alunos no processo de aprendizagem, incentivando-os a desenvolver habilidades e competências específicas.

Na aprendizagem invertida, os alunos aprendem o conteúdo previamente (em casa ou na escola), por meio de vídeos, pesquisas ou leituras, e usam o tempo em sala de aula para discutir, aplicar e aprofundar o conhecimento. Isso permite que o professor atue como facilitador e os alunos assumam um papel mais ativo no processo de aprendizagem.

10) A Secretaria Municipal de Educação lançou os Ginásios Experimentais Tecnológicos, os GETs, que fazem parte de um novo conceito que fomenta o desenvolvimento de competências do século XXI, por meio da abordagem STEAM (Ciências, Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática), aprendizagem baseada em projetos e recursos que promovam a cultura digital. Esse novo modelo de escola possui um laboratório maker – o colaboratório, um espaço de colaboração que promove um ensino mão na massa com equipamentos variados, que vão desde utensílios básicos a impressoras 3D. Com certeza, é um modelo de escola que facilita essa abordagem de ensino, entretanto, o que o senhor diria para o nosso professor que não conta, em sua escola, com essa estrutura específica e quer inovar e investir nas metodologias ativas?

Os GETs são espaços importantes para a experimentação e criação e estão sendo implantados em muitos estados e municípios, como atualmente no Rio de Janeiro.

Embora a disponibilidade de recursos e infraestrutura específicos possa ajudar a facilitar o processo de implementação de metodologias ativas de ensino, é importante lembrar que essas metodologias podem ser aplicadas em qualquer ambiente de sala de aula e da escola. O importante é focar na criação de um ambiente de aprendizagem ativa e engajamento dos alunos. Escolas sem tecnologias avançadas podem ser criativas e interessantes e flexíveis quando gestores e docentes são competentes, abertos, criativos e encantam.

Independentemente dos recursos disponíveis, a aprendizagem baseada em projetos pode ser implementada em qualquer ambiente. Isso envolve a criação de projetos ou tarefas que permitam que os alunos apliquem conceitos e teorias em situações práticas, com os recursos possíveis. As discussões em grupo são uma forma eficaz de envolver os alunos no processo de aprendizagem, permitindo que eles compartilhem ideias e opiniões com outros colegas.

Mesmo sem um laboratório maker, é possível realizar experimentos simples em sala de aula que permitem que os alunos aprendam fazendo e apliquem conceitos de ciência e matemática na prática. Uma forma de acessar recursos adicionais é por meio de parcerias com outras escolas, empresas locais ou comunidades. Isso pode permitir que os alunos tenham acesso a recursos e experiências que não seriam possíveis de outra forma.

É possível inovar sempre, com poucos ou muitos recursos, e investir em metodologias ativas de ensino por meio da criação de um ambiente centrado no aluno, com foco em projetos, discussões em grupo, uso de tecnologia simples, experimentos simples e parcerias. O importante é ter a disposição de experimentar novas abordagens e encontrar maneiras criativas de engajar os alunos no processo de aprendizagem. Mas o ideal é que todas as escolas estivessem bem equipadas e com professores bem preparados e valorizados.

11) Gostaríamos que o senhor falasse um pouco sobre os desafios de utilização de metodologias ativas e recursos digitais na rede pública de ensino, considerando as complexidades culturais e econômicas em que nossos estudantes estão inseridos.

A rede pública atende a alunos em diferentes realidades socioeconômicas. Há escolas com mais e com menos recursos, com melhor ou pior acesso à internet, com uma gestão mais participativa ou burocrática. A utilização de metodologias ativas e recursos digitais na rede pública de ensino pode enfrentar alguns desafios específicos relacionados às complexidades culturais e econômicas em que os estudantes estão inseridos. A falta de acesso a dispositivos tecnológicos e à internet pode limitar a implementação de metodologias ativas e o uso de recursos digitais. Alguns alunos, por exemplo, podem precisar trabalhar fora da escola para ajudar a sustentar suas famílias, o que pode limitar o tempo disponível para o envolvimento em atividades extracurriculares.

Para superar esses desafios, é importante que os professores e escolas da rede pública de ensino adotem abordagens flexíveis e adaptáveis para a implementação de metodologias ativas e recursos digitais. Isso pode incluir a identificação de soluções criativas para contornar problemas de conectividade, como fornecer acesso wi-fi em áreas públicas próximas aos alunos que não têm internet em casa. É importante também que sejam identificadas estratégias para envolver a comunidade local, como parcerias com empresas locais, organizações sem fins lucrativos e outras escolas para compartilhar recursos e apoiar iniciativas conjuntas. Além disso, é importante garantir que as atividades propostas sejam adaptadas para atender às necessidades e habilidades culturais dos alunos, e que sejam projetadas para que os alunos possam participar de acordo com sua disponibilidade e tempo livre. Enfim, é necessário que as escolas da rede pública de ensino estejam sempre buscando maneiras de superar esses desafios e oferecer oportunidades de aprendizado significativas para todos os alunos.

12) Para finalizar, agradecemos imensamente por participar desta edição da Revista Carioca de Educação e, por gentileza, nos apresente suas considerações finais.

Tornar uma escola interessante não depende principalmente de uma infraestrutura sofisticada, mas de ter gestores e docentes competentes, abertos, criativos, que se ajudam e trabalham juntos. Pessoas interessantes e humanas atraem, conquistam, entusiasmam. Pessoas interessantes gostam de aprender quando ensinam; são flexíveis para adaptar-se a cada situação, pessoa e turma.

Temos escolas com propostas pedagógicas diferentes, umas com mais ênfase em projetos e competências, outras em conteúdo com metodologias ativas, mas todas deveriam saber motivar, atrair, engajar os estudantes, utilizando toda a expertise acumulada em gestão, docência, avaliação. Hoje todos nós, os educadores, somos desafiados a incorporar metodologias ativas, competências digitais, trabalhar com a personalização e a aprendizagem em grupos de forma mais integrada, flexível, compartilhada. Precisamos equilibrar informação com experimentação, teoria e prática, materiais analógicos e digitais, espaços físicos e virtuais. Mas o essencial continua igual: educação é o encontro entre pessoas que se ajudam a evoluir em todas as dimensões vitais, ampliando o conhecimento, as competências socioemocionais e o desenvolvimento de valores humanizadores.

O cenário que se desenha é, no conjunto, muito promissor. Estamos em um período de transição para a experimentação de novos modelos de ensinar e de aprender, mais flexíveis, mais personalizados e com muita sinergia com as organizações sociais e o apoio do melhor dos encontros presenciais com a riqueza de possibilidades que também o digital oferece, assíncrona e sincronamente. O digital é um ambiente essencial para inovar, empreender, integrar todas as áreas, pessoas e serviços e poder oferecer experiências ricas e diferenciadas de aprendizagem, pesquisa e parcerias.

A educação precisa ser criativa e empreendedora, na escola e na nossa vida, que nos desafia em todos os campos, a todo momento, em todas as áreas com problemas concretos, complexos e multidisciplinares. Aprender empreendendo é a única saída para viver uma vida com significado e evolução em todos os momentos e em todas as dimensões. E a escola é um espaço privilegiado para a inclusão de todos nessa caminhada.

José Moran

Professor, escritor e pesquisador de projetos inovadores na educação com ênfase em competências, metodologias ativas, modelos híbridos e tecnologias digitais. Foi professor na USP e um dos fundadores do Projeto Escola do Futuro na mesma Universidade. Implantou e gerenciou programas de Ensino Híbrido (Blended) e de Educação a Distância. É autor dos livros A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá, Metodologias Ativas de Bolso e coautor dos livros Metodologias Ativas para uma Educação Inovadora, Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica, e Educação a Distância: Pontos e Contrapontos. Suas ideias estão no blog Educação Transformadora da USP.

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